Amazonas desperdiça 399 milhões de litros de água tratada todos os dias
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O índice
de desperdício é superior à média da
perda nacional. Foto: Gisele
Rodrigues
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Manaus - O desperdício de água tratada no
Amazonas chama atenção neste 22 de Março, Dia Mundial da Água. Segundo o
Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos do Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento (SNIS), do Mistério das Cidades, são 399,29 milhões de litros
perdidos todos os dias, em média, antes de chegarem às torneiras dos lares e
indústrias amazonenses. O volume desperdiçado equivale a 47% da água tratada no
Estado. São 697,66 litros/dia para cada uma das 572.339 ligações.
O índice
é superior à média da perda nacional: 36,9%. O desperdício da água tratada
também pesa no bolso do consumidor amazonense, já que a tarifa média para cada
litro que custa, em média, R$ 3,75, uma das mais caras do País (ver
gráfico ao lado).
O estudo,
elaborado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, vinculada ao
Ministério das Cidades, identificou que o Amazonas é o 11º do País em perdas.
Em primeiro está o Amapá, com 76,5% de água tratada desperdiçada, seguido de
Roraima (59,7%), Sergipe (59,3%), Acre (55,9%), Rio Grande do Norte (55,3%),
Pernambuco (53,7%), Rondônia (52,8%), Piauí (51,8%), Pará (48,9%) e Minas
Gerais (47,2%). O relatório foi elaborado com base nos dados de 2013.
O
relatório aponta, ainda, o aumento no consumo de água per capita no Estado:
159,25 litros por pessoa/dia, em média, aproximadamente 20 litros a mais que no
ano anterior. Em 2013, 2.483.656 pessoas residentes em 40 dos 62 municípios
amazonenses eram atendidas com serviço de água tratada, conforme o Ministério
das Cidades.
O
engenheiro ambiental Felipe Quarterolli destaca que as perdas na distribuição
da água tratada, com os vazamentos e ligações clandestinas, aumentam o consumo
diário por habitante. Ele considera que a responsabilidade deve ser
compartilhada entre os prestadores de serviço e consumidores. “Está passando da
hora de assumirmos uma postura consciente. É triste que, mesmo pesando no
bolso, já que pagamos por litros que desperdiçamos, ainda não adotamos uma
postura realmente responsável sobre o uso da água”, disse.
Como
medidas para redução do desperdício, o engenheiro recomenda a vistoria em
possíveis vazamentos na tubulação, regulação da válvula de descarga e das
torneiras. Quarterolli também afirma que é necessário uma mudança de hábitos
quanto ao uso da água. “Como exemplos práticos, podemos remover o excesso de
resíduos antes de lavar as louças, armazenar água da chuva para limpeza do
quintal e comunicar a companhia de saneamento em caso de vazamentos na
rua”.
Sustentabilidade
Celebrado
mundialmente desde 22 de março de 1993, o Dia da Água foi recomendado pela
Organização das Nações Unidas (ONU), durante a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, no Rio de Janeiro. Desde
então, as celebrações ao redor do mundo acontecem a partir de um tema anual,
definido pela própria Organização, com o intuito de abordar os problemas
relacionados aos recursos hídricos.
Em 2015,
a temática escolhida foi o uso sustentável da água. A ONU estima que até 2030 a
necessidade por água vai aumentar 40%, ao mesmo tempo em que 25% das bacias
hidrográficas dos principais rios do mundo vão sofrer reduções drásticas de
volume durante vários meses. Segundo cálculo das Nações Unidas, 768 milhões de
pessoas não têm acesso a água tratada, e 2,5 bilhões vivem em condições
sanitárias precárias.
Doenças
Em média,
100 crianças no Amazonas morrem, por ano, vítimas de doenças diarreicas aguda,
provocadas pela má qualidade da água consumida, segundo dados do Sistema Único
de Saúde (Datasus), do Ministério da Saúde (MS). Conforme pesquisa da
consultora Macroplan, o Estado aparece na 17ª posição no ranking nacional de
saneamento básico, com apenas 9% de cobertura no atendimento urbano de esgoto.
Na
capital amazonense, a média anual de internações por diarreia, de crianças e
adultos, é de 116,8 para cada 100 mil habitantes, o que custa anualmente ao SUS
mais de R$ 50 mil. A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) registrou em torno
de 40 mil casos de doença diarreica aguda no ano passado. De acordo com a
Semsa, essas doenças têm relação direta com questões de saneamento básico,
principalmente água potável e esgoto sanitário adequado.
A falta
de acesso à rede de tratamento de esgoto, serviço de responsabilidade da
concessionária Manaus Ambiental, coloca a capital amazonense entre as dez
cidades brasileiras com as maiores taxas de internações de crianças menores de
5 anos por diarreia: 71,1 por 100 mil habitantes. A informação consta do estudo
‘Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População’, do
Instituto Trata Brasil.
A
Pesquisa Nacional de Saneamento do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) revelou que mais de 60% da população dos municípios da zona
rural do Estado consomem água sem qualquer tipo de tratamento com
desinfetantes.