Proposta para unificar eleições aumentará número de renúncias
JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
DE SALVADOR
31/05/2015
02h00
A
unificação das eleições municipais, estaduais e federais-ponto da reforma
política que deve ser votado na Câmara dos Deputados– deve multiplicar o número
de renúncias de chefes do Executivo nos anos de eleição.
A
proposta prevê que o eleitor vá às urnas apenas a cada cinco anos para votar de
uma única vez para vereador, prefeito, governador, deputado estadual,
senadores, deputado federal e presidente.
Se as
eleições de 2012, por exemplo, já fossem unificadas, 82% dos prefeitos das
maiores cidades do país poderiam ter renunciado para disputar nova eleição.
Dos 84
prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores que encerraram mandato em
2012, 69 disputaram a reeleição naquele ano ou tentaram outros cargos em 2014.
Exemplo
disso foi o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), que disputou uma
vaga de senador em 2014, e o hoje governador do Rio Grande do Sul, José Ivo
Sartori (PMDB), que deixou a Prefeitura de Caxias do Sul.
Se as
eleições fossem unificadas na época, ambos teriam de se desincompatibilizar
seis meses antes do pleito, abrindo a vaga para o vice. Caso contrário,
precisariam esperar cinco anos até a próxima eleição.
Hoje,
como as eleições para deputado, governador e senador não coincidem com a de
prefeito, a maioria dos gestores municipais cumpre o mandato até o final.
A mudança
é defendida por parte da classe política sob argumento de que baratearia os
custos das eleições e evitaria que a discussão eleitoral dominasse a agenda
política a cada dois anos.
Para os
especialistas ouvidos pela Folha, a maioria dos chefes de Executivo
tende a disputar novos mandatos para se manter em evidência e garantir
benefícios, como verbas e cargos.
Nas
eleições de 2012, dos 84 prefeitos de grandes cidades, apenas 15 não tentaram
novos mandatos depois de deixarem o cargo.
Mesmo
assim, alguns deles só não foram às urnas por pendências com a lei da Ficha
Limpa. Foi o caso do ex-prefeito de Salvador João Henrique Carneiro (sem
partido), que optou por lançar mulher e filho para Câmara e Assembleia em 2014.
SAÍDA DO
CARGO
Para
evitar as renúncias, o Congresso pode acabar flexibilizando a lei que define a
desincompatibilização de quem exerce cargo executivo.
"É
possível que o Congresso acabe reduzindo o prazo para desincompatibilização ou
até que extinga essa exigência, como já acontece para os parlamentares",
diz o cientista político e professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia)
Paulo Fábio Dantas Neto.
A
unificação das eleições é vista com reserva por especialistas, que acreditam
que a proposta pode reduzir a renovação nos cargos políticos. Outro ponto
questionado são os possíveis efeitos sobre a qualidade do debate político.
"Com
tantas eleições juntas, o debate político é reduzido a um carnaval, reduzindo a
possibilidade de um voto com consciência", afirma o cientista político
Leonardo Barreto, professor da UnB (Universidade de Brasília).
Por outro
lado, a medida pode enfrentar resistências para aprovação no Congresso por
piorar a situação de quem perder as eleições.
"No
modelo atual, um deputado tem a possibilidade de disputar uma prefeitura,
perder e voltar para o mandato. Isso reduz o peso de uma derrota", diz
Barreto
Fonte:
Folha de São Paulo