STF decide por unanimidade afastar Cunha da presidência da Câmara e do mandato
Os 11 ministros referendaram decisão de Teori
Zavascki de afastar deputado da presidência da Câmara e também suspender seu
mandato
BRASÍLIA
- O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta quinta-feira, 5, por
unanimidade, a decisão do ministro Teori Zavascki de afastar o deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara e também suspender seu mandato
eletivo. Todos os 11 ministros participaram do julgamento.
A decisão da Corte partiu de um pedido do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, feito em dezembro de 2015. Para Janot, o peemedebista usava o cargo para atrapalhar as
investigações da Operação Lava Jato e a análise do processo de cassação de seu
mandato no Conselho de Ética da Câmara.Os ministros destacaram em seus votos que essa decisão se tratava de uma situação excepcional, não uma interferência do Supremo no funcionamento do Poder Legislativo.
STF1 BSB
DF 05 05 2016 NACIONAL STF|EDUARDO CUNHA O ministro Teori Zavascki (d), faz a
leitura do documento com a decisao sobre acao cautelar para afastamento do
presidente da Camara dos Deputados, Eduardo Cunha. O Pedido foi feito pela PGR
em dezembro do ano passado para afastamento do presidente da Camara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). FOTO: DIDA SAMPAIO|ESTADAO
"Afastar
Cunha é uma decisão drástica, para lá de incomum. Esta decisão trata-se de uma
excepcionalidade, não é um instrumento de valoração de um Poder sobre outro”,
defendeu Dias Toffoli.
A
ministra Cármen Lúcia também destacou que a situação era
"excepcionalíssima" e que essa decisão não poderia se popularizar.
“Não havia outra solução”, disse.
Gilmar
Mendes disse que decisões como essa não poderiam se tornar “matéria do
cotidiano”, mas aproveitou o seu voto para criticar Cunha. "O que marca o
Estado de Direito é que justamente não existem soberanos", afirmou.
Em um
voto breve, Luís Roberto Barroso elogiou a decisão de Teori sobre o caso e
afirmou: "Eu não quero viver em outro País, eu quero viver em outro
Brasil".
Após a
maioria dos ministros votarem pelo afastamento de Cunha, uma queima de fogos na
área da Praça dos Três Poderes pode ser ouvida pelo plenário do Supremo.
Demora. Diante das críticas de que o
Supremo demorou para analisar o caso, Teori justificou a demora para tomar uma
decisão ao fato de a Procuradoria-Geral da República ter enviado o pedido de
afastamento às vésperas do recesso do Judiciário, quando os ministros saíram de
férias. O ministro também argumentou que muitos fatos contra Cunha só foram
revelados depois do pedido feito por Janot.
A pressão
sobre os ministros do Supremo aumentou diante da possibilidade de Cunha passar
a ser o primeiro na linha sucessória da Presidência da República com a
confirmação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado.
Diante da
inércia da Corte, a Rede Sustentabilidade entrou com uma ação no Supremo para
pedir o afastamento de Cunha, alegando que alguém que já é réu numa ação penal
na Corte não poderia assumir o mais alto cargo do País.
A ação,
relatada pelo ministro Marco Aurélio Mello, foi pautada para esta quinta. Mas
Teori se antecipou e resolveu deferir a liminar afastando Cunha. Segundo
assessores, o ministro tinha receio de o plenário optar por uma solução mais
branda, que só proibisse o peemedebista de integrar a linha sucessória.
O
presidente do STF, Ricardo Lewandowski, defendeu o tempo que a Corte levou para
analisar o caso. “O tempo do Tribunal não é o tempo da política, nem é o tempo
da mídia. Nós temos ritos e prazos que temos que observar”, disse.
Teori. Em sua decisão, Teori defendeu que a permanência Cunha na
presidência da Câmara e exercendo a função de deputado representaria risco às
investigações em curso contra ele no STF. "Está claro, pelos elementos
trazidos, que há indícios de que o requerido, na sua condição de parlamentar e,
mais ainda, de Presidente da Câmara dos Deputados, tem meios e é capaz de
efetivamente obstruir a investigação, a colheita de provas, intimidar
testemunhas e impedir, ainda que indiretamente, o regular trâmite da ação penal
em curso no Supremo Tribunal Federal, assim como das diversas investigações
existentes nos inquéritos regularmente instaurados", afirmou Teori.
O
ministro também argumentou que alguém que já é réu no STF não pode permanecer
na linha sucessória da Presidência da República. "Não há a menor dúvida de
que o investigado não possui condições pessoais mínimas para exercer, neste
momento, na sua plenitude, as responsabilidades do cargo de Presidente da
Câmara dos Deputados, pois ele não se qualifica para o encargo de substituição
da Presidência da República, já que figura na condição de réu.”
Em março,
o STF aceitou uma denúncia e transformou o peemedebista em réu uma ação da Lava
Jato. Cunha também responde a outra denúncia além de três inquéritos. Há ainda
três outros pedidos de investigação contra o peemedebista que esperam a
autorização do Supremo para serem iniciados. Em um deles, Cunha é apontado como
um dos líderes de uma célula criminosa que atuava em Furnas, num esquema
semelhante ao que está sendo investigado na Petrobrás.
A decisão
do STF suspende as atividades parlamentares de Cunha, mas não retira as
prerrogativas que o peemedebista tem como deputado. Deste modo, Cunha continua
com foro privilegiado, ou seja, com a prerrogativa de ser investigado e
processado criminalmente pelo Supremo e não pela justiça de primeiro grau. Ao
final do julgamento, Lewandowski afirmou que a cassação do mandato de Cunha é
uma decisão que caberá à Câmara dos Deputados.
Apesar de
já ter decidido afastar Cunha, os ministros ainda terão de discutir uma ação
proposta pela Rede Sustentabilidade. A medida fala em uma tese geral de proibir
tanto o presidente da Câmara quanto do Senado a permanecer na linha sucessória
caso se torne réu no STF. Os ministros, no entanto, decidiram adiar o
julgamento sobre essa questão.
Fonte: http://www.estadao.com.br/